Você realmente sabe o que são primeiros socorros?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 20/fev/23.
Disponível em https://medium.com/p/1239ffc6fbb1
Tempo de leitura: 4 min.

Desde 2018, por ocasião da sanção da lei federal número 13.722, conhecida como Lei Lucas, o tema primeiros socorros vem sendo amplamente discutido, principalmente no ambiente escolar, que é o foco dela. Acontece que, mesmo estando em evidência, ainda há muita confusão na hora de conceituar — e ensinar — estes procedimentos, até mesmo entre profissionais da saúde e resgate, o que contribui, portanto, para a propagação de orientações equivocadas e até mesmo algumas armadilhas, resultando em danos para as vítimas e prejuízo financeiro para pessoas interessadas em aprender tais procedimentos.

O que são primeiros socorros?

Primeiros socorros podem ser definidos como cuidados iniciais de emergência prestados à uma vítima de mal súbito ou lesão. Eles são necessários pois existem algumas situações que não permitem aguardar a chegada de uma equipe de emergência para iniciar o atendimento, afinal, até que isso aconteça, o quadro pode agravar e a situação da vítima deteriorar, ocorrendo até mesmo a morte. Nesse caso, os espectadores — pessoas que estão no mesmo ambiente em que a vítima e presenciaram o fato — precisam intervir e realizar alguns procedimentos.

Quando a equipe especializada chega ao local, ela dará continuidade ao atendimento, executando tarefas mais complexas. Por isso, entende-se que as diferenças entre os procedimentos executados por espectadores e pessoas com treinamentos em primeiros socorros daqueles executados por profissionais da saúde e resgate estão no nível de habilidade e competência técnica.

Tomemos como exemplo a parada cardíaca. O coração funciona como uma bomba cujo objetivo é circular o sangue rico em oxigênio por todo o corpo. Quando ele para, o sangue não circula mais e, com isso, as células deixam de receber o oxigênio e começam a morrer. Nesse caso, a intervenção necessária é a reanimação cardiopulmonar, conhecida como RCP apenas. Ela pode ser executada de diversas maneiras, e a escolha do procedimento vai depender dos dois fatores citados anteriormente.

A American Heart Association — instituição americana que elabora protocolos aplicáveis em emergências cardiovasculares — orienta que espectadores (pessoas que presenciaram o fato e não possuem nenhum treinamento em primeiros socorros) executem a RCP hands only, ou seja, façam apenas as compressões no centro do tórax da vítima o mais rápido e forte que puderem (para vítimas adultas, idealmente, a velocidade deve ser de 120 compressões por minuto com uma profundidade de 5 a 6 centímetros). Veja o exemplo na animação a seguir:

O atendimento profissional

Agora, quando a equipe de emergência chega, os procedimentos envolvidos nesse atendimento são bem mais complexos e alguns deles restritos à enfermeiros ou mesmo médicos e, por isso, além do nível de habilidade ser bem maior, há a necessidade de competência técnica para tal. Aqui é o caso da RCP com via aérea definitiva, onde um tubo é inserido na traqueia para fazer com que o oxigênio, vindo de um cilindro, vá direto para os pulmões. A proporção compressão x ventilação é alterada e é realizada, também, a infusão de algumas drogas.

Note, portanto, que primeiros socorros envolvem procedimentos simples e que podem ser facilmente executados por qualquer pessoa, mesmo que esta tenha pouco ou nenhum treinamento. Por isso é importante tomar cuidado ao escolher um curso, principalmente agora, onde a oferta é grande e nem todos prezam pela qualidade devida.

Saiba escolher o seu curso

Um curso de primeiros socorros costuma ter, em média, 8 horas de duração. Infelizmente, porém, é comum ver nas redes sociais ofertas cuja carga horária ultrapassa 300 horas, o que costuma ser característico de cursos de pós graduação em urgência e emergência para enfermeiros, o que não faz nenhum sentido, já que, repito, estamos falando de procedimentos simples, claros e objetivos!

Além de serem cursos caros, os procedimentos ali listados, como restrição de coluna cervical e movimentação de vítima, suplementação de oxigênio e muitos outros, são destinados à profissionais da saúde e isso, quando ensinado para o público leigo, prejudica a aprendizagem e pode até mesmo colocar a vida do prestador do primeiro cuidado e da vítima, principalmente, em risco. Por isso, considere os pontos abaixo na hora de escolher um curso de primeiros socorros:

·         - Conheça a instituição. Procure por referência entre pessoas que já frequentaram o curso;

·        -  Explore o currículo do instrutor e sua experiência profissional;

·     - Atente-se para a carga horária e conteúdo programático. Desconfie de cursos com conteúdo excessivo e com procedimentos que envolvam o uso de dispositivos que são costumeiramente vistos em ambulâncias, como pranchas, colar cervical etc.

Lembre-se: quanto mais simples, melhor!



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