'Supergonorreia': infecção sexualmente transmissível chega às Américas
Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 25/jan/23.
Disponível em https://medium.com/p/7a09a654938a
Tempo de leitura: 4 min.
Na penúltima segunda feira de janeiro (23), fomos surpreendidos com a notícia de que uma cepa causadora de uma gonorreia mais resistente à ação dos antibióticos disponíveis foi identificada em dois pacientes nos Estados Unidos.
Imagem: Edward Jenner/Pexels
Apesar da ‘supergonorreia’ — como é conhecida a infecção causada por esta cepa - não ser uma novidade, as autoridades mostraram preocupação pois, até então, casos como estes haviam sido reportados apenas na Ásia e Reino Unido, o que mostra que ela está se espalhando. Além disso, os dois pacientes não possuem nenhuma conexão.
Os Estados Unidos não lidam muito bem com a doença. Somente em Massachusets, local de origem das vítimas, os casos saltaram de 1.976 em 2009 para 8.133 em 2021, o que representa um incremento de 312%. Por isso, um alerta do Departamento de Saúde do país pede que as campanhas de conscientização sejam reforçadas.
Agentes de saúde orientam, também, que pessoas sexualmente ativas sejam regularmente testadas para ISTs e considerem reduzir o número de parceiros, além de considerarem o uso de preservativos.
O que é gonorreia?
Gonorreia é o nome dado à infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, também conhecida como gonococo. Está presente em todo o mundo e é considerada a IST bacteriana de maior prevalência, fazendo milhares de vítimas todos os anos.
A contaminação se dá por meio do sexo vaginal, anal ou mesmo oral sem proteção. Nas mulheres, quando infectadas, os sintomas não costumam se fazer presentes na maioria dos casos (60–70%), mas em geral, podem ser observados necessidade urgente de urinar (bem como dor), secreção vaginal, dor durante a relação e febre. Já no caso dos homens, os sintomas costumam aparecer entre dois e sete dias após o contato com a bactéria em 90% dos casos e os sintomas incluem dor ao urinar e corrimento purulento, que pode ser branco, amarelo ou verde.
Corrimento uretral, um dos sintomas da gonorreia em homens.
Como a gonorreia tem se tornado resistente ao tratamento padrão?
O uso indiscriminado de antibióticos é o grande vilão. Além disso, a prescrição de tratamentos ineficazes, sejam com medicamentos incorretos ou mesmo com opções ultrapassadas, ajudam as bactérias a se tornarem resistentes, o que torna o tratamento com medicamentos atuais difícil, restringindo as opções disponíveis e a infecção, quando não tratada, pode levar à inúmeras complicações.
“Se não tivermos mais apoio, se não encontrarmos o tratamento correto para a gonorreia, vai chegar um momento em que a doença vai se tornar incurável”, Teodora Wi, especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS), em fevereiro de 2019, para a BBC.
Há risco para o Brasil?
Apesar do país ter registrado queda nos casos de HIV entre o período de 2019 e 2021, por exemplo, um aumento foi registrado entre os jovens (período de maior atividade sexual), o que serve de alerta, já que a gonorreia possui maior incidência na faixa etária de 15 a 24 anos, caracteristicamente. Por aqui, são registrados 500 mil novos casos de da infecção todos os anos — e esse número pode ser bem maior, já que a notificação não é obrigatória.
Como vimos, a gonorreia não costuma apresentar sinais na maioria dos casos em mulheres e, dado o alto fluxo de pessoas no país — o que ficou evidente durante a pandemia — muitas podem estar carregando a bactéria sem saber.
O rastreamento entre pessoas com vida sexual ativa se mostra importante para o controle, porém, no Brasil, não é uma realidade. Quando é feito, ocorre somente para os casos de HIV e sífilis, já que o teste para gonorreia e clamídia, por exemplo, não é amplamente disponível. Por isso, muitos podem estar transmitindo a doença sem saber.
PrEP não protege contra a doença
Sigla para Profilaxia Pré Exposição, a PrEP é um tratamento usado para prevenir algumas doenças antes da exposição ao patógeno. No caso das ISTs, é usado para prevenção ao HIV.
Os medicamentos, disponibilizados desde 2017, costumam ser fornecidos gratuitamente para o chamado público de risco — gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH); pessoas trans; trabalhadores(as) do sexo e parcerias sorodiferentes (quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não), mas não previne outras doenças, dentre as quais, a gonorreia.
Por isso, é importante reforçar o uso do preservativo nas relações sexuais, mesmo que apenas oral.
*Com informações do UOL, Revista Galileu e BBC.