Síndrome de Haff: você sabe o que é?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 31/mai/23.
Disponível em https://medium.com/p/b6d9789c5ca3
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De tempos em tempos, a região Nordeste chama a atenção por conta de casos de uma doença ‘estranha’ que deixa a urina com a cor preta horas após o consumo de peixes e crustáceos. O caso mais recente foi registrado em Recife, no Pernambuco, no final de abril deste ano.

Imagem: Dana Tentis/Pexels

Ano passado, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do Amapá informou que oito pacientes estavam sendo tratados para a doença e outros três notificações estavam sendo investigadas. Já em 2021, o Ceará registrou nove casos suspeitos entre julho e agosto, o que fez com que a Secretaria de Saúde do Estado emitisse uma nota técnica.

O caso mais grave noticiado pela imprensa se deu em 2021, também no Recife, quando a médica veterinária Priscyla Andrade, de 31 anos, morreu após 13 dias internada com a doença.



Origem da doença

A Síndrome de Haff — que foi descoberta em 1924 na região de Königsberg Haff, junto à costa do mar Báltico — causa um quadro grave de rabdomiólise após o consumo de pescados. Tal condição, considerada, portanto, uma intoxicação alimentar, leva a rápida destruição de fibras musculares, liberando toxinas na corrente sanguínea que, quando filtradas pelos rins, deixa a urina escura.

Ainda não se sabe, ao certo, a origem da doença que, no Brasil, teve seu primeiro caso em 2008, no Amazonas. Os cientistas que a pesquisam, porém, defendem duas teorias. Uma está ligada à alimentação do peixe: acredita-se que ele coma algas que contaminam a sua carne, fazendo que a doença se instale no indivíduo mesmo que o animal seja cozido ou frito. Outra vertente é que o seu acondicionamento inadequado seja propício para o seu desenvolvimento. Os peixes mais relacionados aos casos de Síndrome de Haff são Olho de boi (Seriola lalandi) e Badejo (Mycteroperca tigris), mas há notificação com peixes Tambaqui, Pirapitinga, Pacu e Bodião.


Sintomas e tratamento

Os sintomas iniciam-se em menos de 24 horas após a ingestão do peixe, causando dor e rigidez muscular, falta de ar, fraqueza e, claro, a alteração na cor da urina. Seu diagnóstico é clinico e baseia-se na correlação dos sintomas com o histórico alimentar do paciente, já que a rabdomiólise pode ter outras origens, como doenças metabólicas e traumas.

Quanto ao tratamento, não há um específico, sendo imprescindível a hidratação vigorosa, uma vez que pode ocorrer alteração da função renal. Em situações específicas, pode ser indicada a hemodiálise — procedimento em que o paciente é conectado à uma máquina que filtra o sangue. Geralmente a melhora ocorre entre 48 e 72 horas e, em casos graves — o quais costumam ser raros — pode evoluir para o óbito.


É preciso parar de consumir peixes?


“O que é mais importante para a população saber é que, na história do mundo, nunca ela foi encontrada em peixe de cativeiro, de piscicultura.” Roger Crescêncio, da Embrapa Amazônia Ocidental.

É importante ressaltar que não há nenhuma orientação das autoridades de saúde para evitar ou mesmo parar de consumir peixes e, segundo Crescêncio, tal doença nunca foi registrado em peixes de cativeiro. Por isso, ele recomenda que, para aumentar a segurança, pode-se optar pela compra de peixes criados em cativeiro.

*Com informações de Fiocruz, Folha BV, Folha PE e G1.



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