Respiração boca a boca acabou? Ventilações são restritas para profissionais da saúde?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 11/jan/23.
Disponível em https://medium.com/p/68bc5b1b34a4
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Uma dúvida muito comum quando se fala em reanimação cardiopulmonar, até mesmo entre colegas que atuam na emergência, é sobre as ventilações na RCP em primeiros socorros. Muitos afirmam, erroneamente, que a respiração boca a boca não existe mais ou, então, que a ventilação é realizada somente por profissionais da saúde (neste caso, procedimentos exclusivos de Suporte Básico de Vida).

Acontece que há um erro de interpretação e mitos continuam sendo espalhados até mesmo em cursos.

Que o coração precisa de oxigênio para funcionar você provavelmente já sabe. Mas, quero te apresentar quatro argumentos para acabar de vez com essa dúvida.

Primeiro: De fato, a American Heart Association, uma das maiores instituições que elaboram procedimentos para emergências cardiovasculares no mundo, mantém uma intensa campanha de conscientização sobre a importância de qualquer cidadão saber o que fazer diante de uma suspeita de PCR que enfatiza dois passos básicos a serem executados por espectadores: discar o número de emergência e comprimir o centro do tórax da vítima com as duas mãos o mais rápido e forte que puder (idealmente, na faixa de 100 a 120 vezes por minuto), o chamado hands-only. Isso se deve ao fato de, em 2008, um estudo identificar que, quando um leigo aprende a fazer a reanimação cardiopulmonar sem as ventilações, as chances dele tomar uma atitude frente à uma emergência e executar o procedimento com qualidade são muito maiores quando comparadas à RCP convencional. Ao mesmo tempo, porém, ela disponibiliza em seu site, em português, uma página de perguntas frequentes onde explica qual público se beneficiaria da ventilação, que pode, segundo ela, ser realizada boca a boca;

Segundo: A mesma instituição também produziu um guia de primeiros socorros orientando que, em casos de afogamento, a respiração boca a boca pode — e deve — ser realizada caso o prestador do primeiro cuidado tenha treinamento adicional;

Terceiro: Em abril de 2021, uma orientação sobre RCP em crianças com suspeita de infecção pelo novo coronavírus emitida pela AHA reforçou que a respiração boca a boca também pode ser realizada, uma vez que o prestador do primeiro cuidado provavelmente estaria infectado por fazer parte do convívio do menor;

Quarto: Por fim, uma pessoa que tenha interesse em fazer um treinamento adicional de primeiros socorros, ao frequentar um curso chancelado pela AHA (HeartSaver Training), ASHI, National Safety Council ou outra instituição do tipo vai aprender a fazer RCP seguida de ventilações (usando, para tal, máscara descartável, pocket mask ou mesmo boca a boca).

Portanto, fica claro que a RCP seguida de ventilações não são procedimentos restritos à profissionais da saúde  e resgate e que a respiração boca a boca não deixou de existir.



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