O que é RCP - Reanimação Cardiopulmonar - de alta qualidade?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 17/jan/24.
Disponível em https://medium.com/p/4ddf5953c032
Tempo de leitura: 5 min.

A parada cardíaca é, provavelmente, a emergência mais desafiadora e dramática em um cenário de primeiros socorros.

Uma série de passos devem ser seguidos, tão logo se identifique esta ocorrência, para que a vítima tenha não só alguma chance de sobrevivência, mas com um bom prognóstico neurológico. 

Parada cardíaca requer uma série de procedimentos ordenados e de qualidade. Imagem: Kwanchai Lerttanaounyaporn/EyeEm 

A American Heart Association (Associação Americana do Coração) é uma das instituições que elaboram as diretrizes de atendimento às emergências cardiovasculares, e ela mantém uma intensa campanha para que o maior número possível de pessoas aprendam os procedimentos básicos de primeiros socorros, assim como para que locais com grande circulação de pessoas estejam minimamente preparados para tal, dispondo de funcionários treinados e desfibriladores automáticos em pontos de fácil visualização e acesso.

A parada cardíaca

O coração é um músculo formado por quatro cavidades que tem como função circular o sangue por todo o corpo. Para que consiga desempenhar o seu papel de bomba, precisa de impulsos elétricos, que são gerados automaticamente em uma estrutura chamada nó sino atrial, situada no átrio direito, e de oxigênio, que chega ao tecido cardíaco por meio das artérias coronárias.

Ilustração do coração e as artérias que irrigam o tecido. Imagem: tussik13. 

Quando há, portanto, uma falha na geração ordenada de impulsos elétricos ou o suprimento de oxigênio é insuficiente ou mesmo nulo, o coração deixa de bater — e daí o nome parada cardíaca.

Socorro precisa ser ágil e eficaz

A maior parte das paradas que atingem adultos fora do ambiente hospitalar se inicia por uma problema elétrico. Em geral, esta falha — geração desordenada de impulsos elétricos — costuma durar até cinco minutos. Após esse período, a atividade elétrica é totalmente suprimida e as chances de reversão do quadro caem drasticamente. Por isso, a prestação do primeiro cuidado precisa ser ágil e assertiva.

A fim de organizar todo o atendimento e facilitar a compreensão das etapas envolvidas, foi criada a Cadeia da Sobrevivência, a qual possui, no momento da elaboração deste texto, 6 elos, sendo os três primeiros realizados por qualquer pessoa, tendo destaque a etapa da desfibrilação, unica terapia capaz de reverter a instabilidade elétrica.

Cadeia da sobrevivência para PCR extra hospitalar em adultos. Imagem: American Heart Association. 

Os procedimentos a serem executados variam de acordo com o nível de habilidade do prestador do cuidado. Basicamente, existem três grandes grupos:

Espectador: qualquer pessoa que presencia a parada cardíaca e, além de acionar o serviço de emergência, executa procedimentos de menor complexidade até a chegada da ambulância. O foco está na RCP hands-only (somente compressões);

Leigo treinado: pessoa não profissional da área da saúde que frequentou um treinamento de primeiros socorros e, por isso, desenvolveu algumas habilidades que lhe permite executar RCP com ventilações, caso tenha alguns equipamentos de proteção individual e se sinta confortável e seguro para tal;

Profissional da saúde: profissional de nível médio ou superior que participou de um treinamento extenso de atendimento cardiovascular de emergência e, por isso, está habilitado a executar procedimentos que exigem maior nível de habilidade, alguns deles invasivos.

RCP de alta qualidade

Sem muitas delongas, a RCP de alta qualidade significa fornecer os procedimentos descritos na cadeia da sobrevivência observando-se os padrões de desempenho, garantindo um fluxo sanguíneo adequado para o coração, pulmões e cérebro até a chegada do serviço de emergência, o qual dará sequência ao atendimento, executando tarefas que requerem maior nível de habilidade, equipamentos e drogas.

Portanto, você, espectador, ao se deparar com uma vítima adolescente ou adulta com suspeita de parada cardíaca, deverá, de acordo com a cadeia da sobrevivência:

1. Identificar a PCR e acionar o serviço de emergência:

Ajoelhe-se ao lado da vítima e tente identificar se há consciência e/ou atividade respiratória. Bata em seu ombro vigorosamente e chame-a pelo nome, enquanto observa se o tórax expande. Caso a vítima não responda e não esteja respirando, a suspeita de parada cardíaca está confirmada. Acione — ou peça para alguém acionar — o serviço de emergência e trazer um DEA — Desfibrilador Externo Automático;

Identificação da PCR e acionamento do serviço de emergência. Imagem: Pixel_away. 

2. Forneça RCP de alta qualidade:

Ainda ao lado dela, posicione as duas mãos, uma por cima da outra, no centro do tórax da vítima. Comprima rápido e forte, numa sequência de 100 a 120 vezes por minuto. A cada dois minutos, troque com outra pessoa para evitar a fadiga;


Posicionamento das mãos e dos braços para realização das compressões torácicas. Imagem: microgen. 

3. Desfibrile precocemente:

Tão logo o desfibrilador externo automático esteja disponível, peça para que alguém o abra, aperte o botão liga/desliga (ou on/off), conecte os eletrodos no dispositivo e, observando as indicações desenhadas em cada pá, conecte-as no tórax da vítima. Na sequência, siga as instruções sonoras emitidas pelo equipamento. Caso o choque seja indicado, certifique-se que ninguém esteja tocando na vítima, inclusive você e, estando a cena segura, aperte o botão para emitir o choque. Continue seguindo as orientações sonoras.

Uso do desfibrilador externo automático na PCR. Imagem: Stevica Mrdja. 

Os requisitos para uma RCP de alta qualidade incluem:

Veja na animação abaixo um exemplo de atendimento:

Animação explicando como realizar a RCP somente compressões. Vídeo: American Heart Association 

Quando as compressões torácicas são interrompidas ou realizadas fora deste padrão, o fluxo sanguíneo não é gerado, fazendo com que as células deixem de receber o suprimento restante de oxigênio.

Por fim, as ventilações continuam sendo importantes durante a realização da RCP. Porém, para que o espectador se sinta encorajado a tomar uma atitude, a AHA enfatiza que este procedimento, que requer maior destreza, seja realizada por pessoas que tenham treinamento prévio, sendo ele indispensável nos cenários de pacientes infantis, vítimas de afogamento ou engasgo.

Você pode consultar outros textos já publicados para aprofundar o seu conhecimento:

Em tempo: caso você se depare com uma emergência e não souber o que fazer, acesse www.emergencia.site e saiba, em poucos clique, quais os procedimentos devem ser realizados.