O que é um DEA? Quem pode usá-lo?
Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 06/jun/23.
Disponível em https://medium.com/p/2fffd9ccfef8
Tempo de leitura: 4 min.
A parada cardíaca é, sem dúvida, uma das situações mais dramáticas que alguém pode presenciar. Como o nome sugere, o coração para de bater subitamente e, nesse caso, uma rápida e assertiva intervenção deve ser realizada por qualquer — repito, qualquer — pessoa, mesmo que ela não tenha absolutamente nenhum treinamento. Dou ênfase nesta orientação pois, a cada minuto perdido sem que nada seja feito, as chances de sobrevivência diminuem pelo menos 10 por cento.
O coração é um músculo formado por quatro cavidades e funciona exatamente como uma bomba, circulando o sangue por todo o corpo. Para desempenhar tal função, ele depende de aporte adequado de oxigênio e geração ordenada de impulsos elétricos, as quais provocam as contrações, chamadas de sístole e diástole. Quando há uma falha num destes mecanismos, ele, portanto, para.
Arritmias malignas
A maior parte das paradas cardíacas em adultos que acontecem fora do ambiente hospitalar se dão por problemas elétricos, podendo ocorrer a fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular sem pulso (TVSP), as quais são ritmos elétricos desordenados que impedem o correto funcionamento do músculo cardíaco.
Taquicardia Ventricular Sem Pulso. Imagem: Medway.
Por isso, é necessário que a RCP — Reanimação Cardiopulmonar inclua, além das compressões torácicas, a desfibrilação precoce, única terapia com potencial de reverter tais quadros. Este procedimento é realizado por meio do uso de um aparelho chamado Desfibrilador Externo Automático, o DEA.
Há uma intensa campanha para a disponibilização destes equipamentos em locais com grande circulação de pessoas e de fácil acesso por qualquer transeunte, pois, quando o coração para por uma arritmia maligna, as chances de reestabelecimento do ritmo elétrico regular costumam se dar somente nos primeiros quatro minutos. Após esse período, o coração não apresenta nenhuma atividade elétrica — chamada de assistolia — o que dificulta ainda mais o retorno à circulação espontânea.
Desfibrilador Externo Automático no saguão de um aeroporto. Foto: dlewis.
Conhecendo o DEA
O DEA é um equipamento que, quando corretamente instalado na vítima de PCR, é capaz de identificar se a origem da parada é uma falha elétrica e, sendo este o caso, indicar a descarga de um choque terapêutico no peito da vítima, fazendo com que o nó sinusal — estrutura geradora de corrente elétrica no coração — retome o controle da geração ordenada de corrente elétrica, fazendo com o que coração possa circular o sangue novamente.
Sua estrutura é bem simples: trata-se de um console dotado de dois botões (um de liga/desliga e outro de descarga do choque, que pisca quando deve ser acionado), e de dois eletrodos que devem ser posicionados em locais específicos do tórax do paciente (há desenhos na sua face que indicam o correto local de fixação). Além disso, o console emite ordens claras e objetivas do que deve ser feito durante o atendimento. Tal construção permite, assim, que pessoas sem treinamento prévio possam usá-lo sem grandes dificuldades, o que contribui para uma abordagem rápida, correta e eficaz.
Desfibrilador Externo Automático usado em simulação de atendimento à PCR. Foto: microgen.
O DEA pode ser instalado em vítimas de qualquer idade, bastando apenas a substituição das pás por modelos específicos para pacientes pediátricos. Alguns modelos, porém, dispensam tal mudança, sendo necessário apenas colocar uma chave no console que altera a carga (ver vídeo mais abaixo).
RCP com desfibrilação precoce
Ao se deparar com uma vítima inconsciente, você deve executar quatro passos simples:
1 — Reconhecer a parada cardíaca: ajoelhe-se ao lado dela e verifique se está consciente e se respira;
2 — Estando inconsciente e sem respirar, você deve, imediatamente, solicitar que alguém chame uma ambulância e traga um Desfibrilador Externo Automático;
3 — Inicie, então, as compressões torácicas de acordo com a faixa etária;
4 — Coloque o DEA conforme o desenho indicado nos eletrodos, ligue e siga as instruções do aparelho.
No vídeo abaixo é possível ver uma demonstração de uso de um DEA fabricado pela multinacional Philips, o qual não necessita de troca de eletrodos entre vítimas adultas e pediátricas.
Desfibrilador Philips Heart Start. Vídeo: Philips Brasil.
É importante ressaltar que o tórax da vítima deve estar desnudo, seco e sem pelos, e que as pás devem ser substituídas a cada uso. Uma vez instalado, o equipamento só deve ser desligado ou retirado com ordem médica.
Saiba mais: Respiração boca a boca acabou? Ventilações são restritas para profissionais da saúde?