Devemos dar atenção à dengue, e agora!

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 08/fev/23.
Disponível em https://medium.com/p/ceb0eea1db82
Tempo de leitura: 4 min.

De 2020 pra cá, quando se fala doença infecciosa, logo nos vem à mente a covid19, uma patologia respiratória que marcou o início da década devido sua facilidade de transmissão e número de vítimas fatais.

Existe uma outra doença, porém, que é conhecida por todos nós há muito tempo, mas não recebe a devida atenção: a dengue!

Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e outras doenças. Imagem: 41330/Pixabay 

Em 2022, foram registrados quase 1 milhão e meio de casos — 162,5% a mais que 2021 — dos quais pelo menos 1.016 foram fatais. Os estados com mais mortos pela doença foram São Paulo (282), Goiás (162), Paraná (109), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66). E para 2023, as projeções dos especialistas não são nada animadoras.



O que é dengue?

A dengue é uma arbovirose, ou seja, uma infecção viral transmitida por artrópodes — nesse caso, pela fêmea de um mosquito conhecido como Aedes aegypti. Possui grande relevância médica pois é mais prevalente nas Américas e pode causar a morte, principalmente em casos de reinfecção.

Não pense que este mosquitinho preto e rajado em branco, como na foto de abertura desse texto, transmite apenas a dengue: febre amarela, zika e chikungunya também ocorrem por meio da picada dele, que tem maior circulação no verão, já que é um período em que há mais chuvas, o que contribui, portanto, para sua reprodução.

Possui difícil controle pois, além de não existir, até o momento, uma vacina para ela na rede pública, o sucesso para tal depende de ações coletivas e, principalmente, individuais para a redução dos casos na comunidade, e falhas existentes nesse processo — as quais incluem falta de investimento em educação em saúde — contribuem para a proliferação do mosquito (cerca de 80% dos criadouros estão dentro de residências, segundo Fabiano Carvalho, entomologista e pesquisador da Fiocruz Minas).



Sintomas e tratamento

Os sintomas iniciam-se em menos de 24 horas após a ingestão do peixe, causando dor e rigidez muscular, falta de ar, fraqueza e, claro, a alteração na cor da urina. Seu diagnóstico é clinico e baseia-se na correlação dos sintomas com o histórico alimentar do paciente, já que a rabdomiólise pode ter outras origens, como doenças metabólicas e traumas.

Quanto ao tratamento, não há um específico, sendo imprescindível a hidratação vigorosa, uma vez que pode ocorrer alteração da função renal. Em situações específicas, pode ser indicada a hemodiálise — procedimento em que o paciente é conectado à uma máquina que filtra o sangue. Geralmente a melhora ocorre entre 48 e 72 horas e, em casos graves — o quais costumam ser raros — pode evoluir para o óbito.


Por que devemos nos preocupar?


A fêmea costuma depositar, por vez, cerca de cem ovos. Tal distribuição não é pontual e, para piorar, engana-se quem acredita que ocorre apenas onde há água limpa parada: locais secos também podem ser propícios, e a viabilidade dos ovos se mantém por até um ano. Basta contato com água para que, em até sete dias, se complete o ciclo que transformará a larva em um novo vetor.

Além da dificuldade em controlá-la, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás (Lacen-GO) identificaram, ainda em 2022, a circulação de um novo genótipo do sorotipo 2 da dengue (antes comumente encontrado em países da Ásia e África), o qual é mais agressivo.

“Nossa preocupação é com a chegada do DEN-2 em uma população que há um bom tempo não tem uma epidemia por esse sorotipo. Como muitos podem ter sido expostos ao DEN-1, aumenta a possibilidade de haver número significativo de casos graves”. Dr. Carlos Magno Fortaleza, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP). Para 2023, as projeções não são nada animadoras.


Por que devemos nos preocupar?

Os principais sintomas da dengue são:

A forma grave da doença, que é caracterizada por sangramentos e disfunção de órgãos, pode evoluir para choque séptico, principalmente em crianças, idosos e gestantes.

Nesse cenário, os sintomas incluem dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas.

O tratamento para infecção pelo vírus dengue é baseado principalmente na reposição volêmica adequada, levando-se em consideração o estadiamento da doença (grupos A, B, C e D) segundo os sinais e sintomas apresentados pelo paciente, assim como no reconhecimento precoce dos sinais de alarme.

Para os casos leves com quadro sintomático recomenda-se:

Os pacientes que apresentam sinais de alarme ou quadros graves da doença requerem internação para o manejo clínico adequado. Ainda não existe tratamento específico para a doença.


Butantan está desenvolvendo vacina

Apesar de não haver vacina para a dengue na rede pública, o Instituto Butantan, do governo do estado de São Paulo, conduz um estudo que está na fase 3 para o desenvolvimento de um imunizante contra a infecção, que já mostrou eficácia de 79,6%. Além disso, concluiu, no ano passado, a construção de uma fábrica que irá produzi-la.

Instalações da nova fábrica de vacinas do Instituto Butantan, na capital de SP. Foto: divulgação.

Prevenção

A principal dica é não deixar água acumular. Portanto, verifique em sua casa se há lixo ou entulho espalhado pelo quintal e, caso sim, recolha-os. Tampe caixas d’água, cubra piscinas (além de limpá-la regularmente) e objetos como garrafas, pneus e outros. Troque a água dos pratinhos dos vasos por areia e lembre-se de verificar calhas e lajes.

No verão, use repelente, inclusive nas crianças e, se possível, instale telas nas janelas e mosquiteiros em berços.

A participação de todos é fundamental para que possamos controlar a doença. Faça a sua parte!

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Com informações de Medscape, BBC e Ministério da Saúde.



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