Prestando primeiros socorros: por onde começar?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 26/jul/23.
Disponível em https://medium.com/p/9f3f6cdfd6c8
Tempo de leitura: 6 min.

Todos os dias, milhares de pessoas precisam de atendimento médico de emergência, seja por um acidente no trabalho, uma queda em casa, um mal estar em um evento etc. Muitas dessas situações requerem que espectadores — pessoas que estão próximas à vítima e presenciam o trauma ou o mal súbito — façam uma intervenção assertiva antes mesmo da chegada de uma ambulância, afinal, elas podem piorar rapidamente, diminuindo as chances de sobrevivência ou mesmo deixando sequelas.

Saber primeiros socorros, portanto, é fundamental. Porém, por mais simples que estes procedimentos sejam, é comum que algumas pessoas se sintam um pouco perdidas ou mesmo inseguras em relação ao que fazer e como se comportar. 

Imagine a seguinte situação: você saiu para caminhar pela manhã. No trajeto, se depara com uma pessoa caída, aparentemente, desacordada. O que deve ser feito? Você deve chamar a ajuda imediatamente? Deve verificar pulso central? Deve colocar a vítima de lado? Como fazer essa avaliação e saber o que deve ser feito?

Sim, existe uma ordem, um passo a passo aplicável em qualquer situação, e os descrevo a partir de agora.

Primeiros passos

Antes de se aproximar de uma vítima para tentar ajudá-la, é preciso ter em mente que você precisa estar seguro. 

Avaliar a segurança da cena significa procurar por quaisquer elementos que coloquem a vida do prestador do primeiro cuidado em risco. Por mais que a vítima precise de ajuda, você não pode se tornar mais uma!

Vamos ao exemplo: imagine que você está cortando a grama junto com o seu vizinho e você decide ir até a cozinha buscar uma garrafa d’água. Ao retornar, você o observa caído ao lado do cortador de grama e, por ter participado de um treinamento de primeiros socorros recentemente, rapidamente se ajoelha ao lado dele e o toca para identificar se ele está desacordado e checar se está respirando.

Cortador de grama elétrico. Imagem: Magic K.

Apesar de você ter habilidades em primeiros socorros e se sentir seguro em fazer o primeiro atendimento, você não fez a avaliação de segurança da cena e não observou que a máquina que corta grama passou por cima do cabo de energia e o rompeu. A parte que está energizada está entre as pernas dele e, por isso, você leva uma descarga elétrica e também fica desacordado.

Notou como um pequeno descuido causou mais um acidente?

Ao prestar primeiros socorros, portanto, inicie o atendimento avaliando a segurança do local e busque por elementos que impeçam a sua ação: há risco de atropelamento? O local está iluminado? Pode ter vazamento de gás ou algum produto químico? Há risco de descarga elétrica ou queda de materiais suspensos? Há presença de fumaça no ambiente?

Caso você não identifique riscos e se sinta seguro, você pode se aproximar da vítima e iniciar o atendimento.

O segundo item a ser observado é a biossegurança. Ela diz respeito a uma série de medidas que adotamos para evitar a transmissão de doenças entre a vítima e o prestador de primeiros socorros. São as chamadas barreiras de proteção.

Sempre que for atender uma vítima, use luvas de procedimento, evitando contato direto com fluídos corporais como sangue, sêmen, vômito com sangue e outros. Se você for alérgico a luvas de procedimento de látex, porém, use luvas de vinil ou nitrilo. Caso não tenha nenhuma por perto, use alguma outra barreira de proteção, como um saco plástico.

Luvas de procedimento de nitrilo, indicadas para alérgicos ao látex. Imagem: EC Design.

Avaliação inicial da vítima

A avaliação inicial consiste em um conjunto de procedimentos ordenados que visam encontrar e corrigir problemas que possam agravar o estado da vítima ou mesmo levar à morte. Estes procedimentos devem ser executados simultaneamente, sendo ideal não ultrapassar mais do que 10 segundos.

São passos para a avaliação inicial:

Apesar de parecer estranho, ainda que a vítima esteja inconsciente, qualquer esforço para reanimação será nulo caso uma hemorragia grave esteja ativa. Por isso, para os casos suspeitos ou confirmados de trauma, a primeira etapa consiste na localização e correção de grandes sangramentos. Busque, rapidamente, por sangue em poça, roupas encharcadas, sangramento em jatos ou contínuo, e os corrija imediatamente. 

Caso você não encontre sinais de grande perda sanguínea, deve-se, na sequência, checar o nível de consciência. Para tal, ajoelhe-se ao lado dela e, com as duas mãos, toque próximo aos ombros e chame-a pelo nome, oferecendo ajuda. É importante ressaltar que a checagem de pulso central em primeiros socorros não é indicada. A falta de habilidade de espectadores ou mesmo leigos treinados para a execução deste procedimento pode atrasar o início das compressões torácicas devido o prolongamento da avaliação inicial, bem como levar à erros de interpretação.

Avaliando a consciência. Imagem: Pixel_away.

Ao mesmo tempo, deve-se checar o próximo item: a respiração. Observe o tórax e verifique se há expansão, ou seja, se há movimento respiratório.

Checando a respiração. Imagem: Pixel_Away.

Se a vítima, além de inconsciente, não estiver respirando, ela está em parada cardiorrespiratória! Deve-se, então, solicitar ou buscar um DEA — Desfibrilador Externo Automático, acionar a emergência e aplicar os procedimentos de RCP — Reanimação Cardiopulmonar.

Avaliação secundária

Caso a vítima não tenha uma hemorragia grave e ela esteja consciente, podemos fazer uma avaliação mais detalhada, já que não há lesões que coloquem a vida dela em risco.

Faça um exame físico detalhado. Este procedimento, chamado de “exame físico da cabeça aos pés” ou “exame céfalo podálico”, é realizado procurando por:

- Dor quando uma área é tocada

- Pequenos sangramentos

- Inchaço ou deformidade

- Cor da pele e temperatura (quente ou fria), além da condição (seca, suada ou pegajosa)

- Movimento anormal

- Tatuagens de alerta de saúde

Aplique as medidas de primeiros socorros e corrija os problemas encontrados. Faça imobilizações quando necessário, curativos compressivos ou oclusivos e previna a hipotermia.

A última etapa, muito útil para vítimas de mal súbito, é uma avaliação através do acrônimo SAMPLE. Em uma espécie de entrevista, iremos obter informações relevantes para a equipe médica e que podem ajudar a determinar a causa agravo de saúde. Veja:

S = Sinais e sintomas*

A = Alergias

M = Medicamentos

P = Passado clínico ou passado pertinente

L = Líquidos e alimentos

E = Eventos associados

*Sinais é tudo o que eu posso observar de anormal na vítima, como alteração na coloração da pele, sudorese, confusão mental etc. Já os sintomas são as queixas relatadas pela vítima, como dor no peito, tontura, dor de cabeça, entre outras.

Para ajudar a se lembrar do passo a passo, segue abaixo uma proposta de fluxograma:

Fluxograma de prestação de primeiros socorros. Elaborado por Carlos Felpe dos Santos.

Seguindo os passos descritos acima, a prestação do primeiro cuidado fica organizada de modo que os itens que colocam a vida da vítima em risco sejam facilmente identificados e corrigidos.

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O que é um DEA? Quem pode usá-lo? https://www.emergencia.site/o-que-e-um-desfibrilador

Controle de hemorragias: o que todo cidadão precisa saber! https://www.emergencia.site/o-que-e-stop-the-bleed



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