Cheguei no hospital primeiro e fui atendido depois. O que há de errado?

Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 26/dez/23.
Disponível em https://medium.com/p/9aed5da32e72
Tempo de leitura: 3 min.

Você provavelmente já passou pela situação de ir ao pronto socorro com alguma queixa e, enquanto aguardava sua senha no painel do consultório médico, percebeu que outra pessoa que chegou depois de você foi chamada na sua frente. E agora, tá certo isso?


Organização do atendimento em um pronto socorro não funciona por ordem de chegada. Imagem: pixabay.

É óbvio que todas as pessoas que procuram atendimento médico não estão bem e, por isso, querem ser avaliadas e, quando necessário, medicadas o mais breve possível. Porém, ao contrário do que você pode estar pensando, a ordem de chegada não determina quem será atendido primeiro, mas sim, a gravidade do caso.

Por que classificar o risco?

É natural que, com o crescimento das cidades e o aumento na expectativa de vida, os serviços de emergência fiquem rotineiramente lotados, tendo a capacidade de atendimento seriamente comprometida. Ainda que se invista na construção de mais consultórios e na contratação de mais profissionais para executar a assistência, estes nunca serão capazes de reduzir o tempo de espera para zero, principalmente nos serviços públicos.

A fim de evitar que pacientes com condições que ofereçam um grave risco à vida acabem morrendo sem serem devidamente assistidos, surgiu, na década de 1950, nos EUA, o conceito de classificação de risco, que tem por finalidade assegurar que os pacientes recebam o atendimento médico necessário para o seu quadro no tempo adequado.

Como funciona a classificação de risco?

A classificação de risco funciona a partir de um protocolo validado, que tem como premissa estratificar o risco do paciente em ao menos cinco níveis de gravidade, sendo que, para cada um deles, há um tempo máximo de espera.

Existem diversos modelos, como o Australasian Triage Sclae (ATS), australiano; Canadian Traige and Acuity Scale (CTAS), canadense; o Model Andorrà del Trialge (MAT), andorrano; Emergency Severity Índex (ESI), americano; Manchester Triage System (MTS), da Inglaterra.

No Brasil, o modelo mais utilizado é o MTS, também chamado de Protocolo de Manchester ou Sistema Manchester de Classificação de Risco, o qual se utiliza de um padrão de cinco cores, tendo cada um um tempo alvo, como mostra a figura abaixo:

Protocolo de Manchester. Imagem: Brasil Escola/UOL

A classificação de risco somente pode ser realizada pelo enfermeiro — profissional de saúde de nível superior — devidamente habilitado para esta função. A partir da avaliação clínica, a qual é composta, por exemplo, por coleta de sinais vitais e avaliação da queixa principal, o triador irá correlacionar os dados obtidos com os padrões pré estabelecidos neste protocolo e, então, atribuir o fluxo de atendimento correspondente.

Perceba que este método de avaliação não tem como objetivo dar um diagnóstico, mas apenas organizar a fila de atendimento de acordo com a prioridade, sendo os casos graves (aqueles classificados como vermelho), por exemplo, a obstrução de via aérea, a parada cardíaca ou o choque, ficando evidente, então, que um paciente com uma febre e dor de cabeça, por exemplo, pode aguardar por um tempo maior.

É importante frisar que o tempo passa a contar a partir do momento da classificação, e os pacientes que recebem as cores verde ou azul podem ser atendidos até mesmo em outro serviço que sejam próximos da residência, como as Unidades Básicas de Saúde.

Portanto, ao chegar em um pronto socorro ou UPA, mantenha a calma, responda as perguntas do enfermeiro durante a avaliação e, se necessário, tire as dúvidas que surgirem. E lembre-se: respeite a equipe multiprofissional, contribuindo para um ambiente harmonioso e tranquilo!

Referências:

Santos MN, Ruschel DB, Evaldt JQAQ, Ferigolo MP, Lemos KF, Medeiros RM. Sistema de Classificação de Risco: implicações no acolhimento e na priorização de necessidades dos pacientes nos serviços de emergência. In: Associação Brasileira de Enfermagem; Unicovsky MAR, Waldman BF, Spezani RS, organizadores: PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Urgência e Emergência: Ciclo 10. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2022. p. 131–60 (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). https://doi.org10.5935/978–65–5848–737–1.C0005



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